[RESENHA]: Mentirosos - E. Lockhart

Olá, pessoal! 

Tudo bem?! Espero que sim! 

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Era uma vez, um livro chamado Mentirosos, escrito por E. Lockhart e publicado no Brasil pela Editora Seguinte, o selo jovem da Companhia das Letras. Adriano leu o livro em caráter emergencial e ao mergulhar nessa trama, não conseguiu sair inteiro. Esse é o livro que destrói (no bom sentido) o leitor; que causa uma devastação interna positiva e se torna absolutamente inesquecível. Sim, meus caros, escrevo essa resenha com o coração apertado de quem já o leu, se encantou e sofreu (quero dizer, está sofrendo).

O livro parece comum, possui uma sinopse moderadamente atrativa e parece seguir uma linha narrativa  jovem-adulta simplista. Essas foram as minhas impressões num primeiro momento, mas quanto mais via elogios ao livro, mais eu concluía que precisava lê-lo e absorver essa bagagem emotiva que ele transmite. Contar a história desse livro não basta para impactar o leitor; é necessário que este se permita desfrutar pela trama criada e embarque num universo peculiar de uma família aparentemente perfeita. 

Conheçam a família Sinclair, reduto de perfeição, riqueza, status e poder. Nessa família, não há criminosos, fracassados, viciados. São lindos, atléticos, bem-intencionados. Ninguém falha, ninguém erra, ninguém é carente. Porém, tudo isso pode ser mentira!
O patriarca da família é o Harris Sinclair, viúvo e dono de uma ilha exclusiva e particular. Todo verão, ele reúne suas três filhas e netos em seu paraíso privado. 

Não importa se as três filhas se divorciaram e levam vidas medíocres e frustradas, elas continuam sendo perfeitos exemplares de Sinclair. 

A árvore genealógica da família é mais ou menos assim:

A filha Carrie, teve dois filhos e devo salientar que um de seus filhos é Jhonny.

A filha Bess teve quatro filhos e devo salientar que uma de suas filhas é Mirren.

A filha Penny é mãe de uma única filha, Cadence. 

Os primos Jhonny, Mirren e Cadence são Sinclair e desde pequenos frequentam a ilha no verão. Além disso, soma-se Gat (um amigo deles) ao grupo e temos os Mentirosos. Juntos, eles aprontam bastante e desbravam a ilha. Crescem e amadurecem, tendo sempre a certeza de que se reencontrarão no verão, uma vez que a amizade deles se restringe a essa estação, nesse local.

"Mirren. Ela é açúcar. Ela é curiosidade e chuva." [...] "Johnny. Ele é estalo. Ele é iniciativa e sarcasmo." [...] "Gat, meu Gat, era uma vez meu Gat. Ele é contemplação e entusiasmo. Ambição e café forte".

Todas as férias são a mesma coisa, até que o verão dos quinze (quando tinham 15 anos) muda tudo. Essas férias são marcadas por um acidente terrível, brutal e desconhecido. Sabemos que houve algo muito impactante e que isto culminou em uma ferida latente na personagem da Cadence, ela passou a desenvolver depressão, fortes dores de cabeças e perdeu toda a memória do que houve naquele ano. Por conta disso, ela se isola e se reprime. Não volta à ilha no verão dos dezesseis e se metamorfiza numa outra Cadence.

Há uma série de restrições médicas, inclusive a proibição de que lhe contem o que houve. Espera-se que ela se lembre naturalmente, sem a imposição de outro ponto vista, mas que ela recupere as memórias perdidas por conta própria. No verão dos dezessete, Cadence ainda não lembra de nada e por isso, retorna a ilha para mais uma temporada de férias; dessa vez, ela tinha um propósito: se lembrar de tudo que houve naquela noite de verão. 

O livro é marcado pelas tentativas de Cadence em retornar a sua vida na ilha com os Mentirosos. Ela começa a perceber uma realidade diferente e sente as mudanças que pairam no clima. Nesse livro torna-se evidente como a família aparentemente perfeita é na verdade uma estampa para um covil de repugnância e nojo; uma reunião de abastados frustrados e inconsequentes que se definem como donos do mundo e se engalfinham por dinheiro e heranças. Percebemos como essa abordagem é decisiva para a concretização do acidente. 

Meus caros, infelizmente, eu não posso contar mais nada. A chegada de Cadence a ilha, reascende algumas lembranças e gradativamente, essa fagulha vai crescendo; algumas peças do quebra-cabeça se unem e pouco a pouco, ela vai reconstruindo as imagens que resultam na explicação do acidente e quando menos se espera a autora joga uma bomba-relógio no nosso colo e antes que eu pudesse tomar fôlego: a bomba explode! 

A revelação do que houve, de fato na ilha no verão dos quinze, é largada com tamanha efervescência que eu me senti arrasado; me recusei a acreditar que aquilo era possível; li uma, duas, três vezes e milhões de dúvidas começaram a pipocar em minha cabeça. Nada do que eu consegui imaginar durante a leitura se tornou verdade e agradeço por isso, uma vez que a resolução dos fatos criada pela E. Lockhart foi muito mais surpreendente e marcante! Como dizem: ela sambou na cara do leitor. 

A autora cria um paralelo entre o verão dos quinze, com as lembranças, flahsbacks e situações familiares e o verão dos dezessete, as mudanças, as constantes dores de cabeça, a família abatida por algo desconhecido. Torna-se evidente como os Sinclair são desprezíveis vestindo uma carranca de perfeição. Mentirosos me arrebatou. Terminei a leitura mas ainda não parei de pensar no livro. Concluí a interpretação dos fatos e continuo pensando nos efeitos deles dentro do texto. 

Além do mistério sobre o acidente, o ponto alto do livro é dedicado a escrita da E. Lockhart: ela possui uma escrita ácida, rápida e crua. Utiliza de muitas frases curtas e capricha no uso de metáforas e estas são importantes para conferir ao livro esse caráter impactante e explosivo. Além disso, a autora explorou o efeito de tocar através da compreensão das entrelinhas; o entendimento do que não precisa ser dito, mas sentido. Há ainda, uma intertextualidade com Shakespeare e releituras de contos de fadas.

Impactante - Devastador - Intenso - Denso - Inesquecível - Emocionante

Ao fim da leitura, me sinto na necessidade e obrigação de compartilhar esse livro com todos os meus amigos e leitores. Não tem idade, sexo ou gênero literário: LEIAM MENTIROSOS!! Porém, faço uma ressalva: fujam de spoilers como o diabo foge da cruz. Vocês vão querer saber sobre o acidente por conta própria; o impacto causado será maior e melhor; a intensidade das revelações terão mais brilho.  

Eu tive a oportunidade de ler a prova antecipada do livro e por isso, não avaliarei a diagramação e projeto gráficos. Apesar disso, adorei a escolha de capa, porém ainda não a vi pessoalmente. E para quem gosta de livros com mapas e capítulos curtos com leituras ágeis, esse é o livro.
Hoje, estou com muita vontade de ler outro livro da E. Lockhart: "O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks".
E vale salientar que a Editora Seguinte criou um site maravilhoso sobre o livro. No espaço, encontram-se críticas, informações sobre a obra e há um mural dedicado a quem quiser contar uma mentirinha!

AVALIAÇÃO GERAL:

Espero que tenham gostado! Não deixem de comentar e permitam-se embarcar na vida dos Sinclair!
Prometo que vocês irão adorar a leitura de Mentirosos!