Tudo bem?!
Como mencionei ontem, hoje é a inauguração da coluna Salada Literária! Para quem não viu do que se trata, segue o link. Essa coluna é muito legal e assim como eu, os autores de cada texto que será publicado estão ansiosos para saber da receptividade dos leitores e por isso, as expectativas estão nas alturas!
Por sorteio, foi definido que a Erica Azevedo irá estrear a coluna. Confiram quais foram seus ingredientes:
- SALADA:
- Gênero? Terror.
- Quem? Um palhaço banguela; uma freira que cria 27 gatos e um ator global.- Quando? Um final de semana chuvoso
- Onde? Pelourinho - Salvador
- Como? A critério do autor
- Por quê? A critério do autor
- Objetos especiais: Bloco de notas, carregador de celular, aparador de grama, régua e meias.
Informações importantes:
* Podem ser acrescidos novos personagens, desde que esses estejam inclusos.
* Os objetos especiais DEVEM estar na história e a finalidade dele é critério do autor, assim como o porquê e o como.
A partir de agora, a Erica está sozinha na direção do post. Ela que comandará a atração dessa terça-feira. O texto é de inteira responsabilidade dela, de sua criatividade e de sua cabeça de escritora. Aproveitem!!!
Resenha de Pluvia! |
UMA SOMBRA NO PELOURINHO.
Um grito desesperado ecoa na
noite nebulosa.
A forma de uma mulher observa por entre a fresta de uma janela as
fachadas coloridas das construções ao estilo barroco português que moldam um dos
símbolos da capital baiana e que abriga sobre seu calçamento pé de moleque
diferentes tipos de histórias.
Histórias...
Talvez as de algumas pessoas estejam a ponto de ganhar um ponto final.
O som de um trovão ao longe traz uma estranha euforia para o corpo
esguio da mulher. Sentindo-se segura em seu hábito de freira, ela deixa os dedos passearem quase inconscientes sobre o
crucifixo, murmurando uma prece silenciosa e sob os olhares atentos dos vinte e sete gatos decrépitos que a
espreitam de forma voraz. De algum modo ela sabe, mesmo que as notícias tentem a
abafar o escândalo, que alguém está a ponto de morrer essa noite.
- Que Deus purifique a alma dos pecadores – ela diz de forma urgente
quando sua voz se confunde aos estrondos lá fora.
O ar carregado entra por frestas na janela fazendo a luz das velas
bruxulear contra as paredes. A pequena biblioteca parece esconder sombras
ocultas em cada canto e instintivamente os ombros debilitados da mulher se
retraem buscando conforto.
Bum! Bum! Bum!
As batidas urgentes na porta lhe causam um sobressalto e trazem certo
desconforto aos seus ouvidos.
- Eu preciso de ajuda! – uma voz rouca ressoa impregnada de desespero.
A mulher desce as escadas deterioradas fazendo as contas em seu pulso se
chocarem umas às outras. Em um movimento brusco, ela abre de supetão a pesada
porta de madeira.
- Tem alguém me seguindo - o homem a sua frente revela em uma súplica
velada.
A freira permite que ele entre enquanto seus olhos vasculham os
arredores transpassando a chuva torrencial que alaga a rua lá fora.
- Você tem um telefone? – ele questiona.
Sua roupa molhada deixa um rastro lustroso que se alastra pelo assoalho
procurando cada um de suas perfurações, e suas mãos se esfregam uma na outra
tentando aquecer suas terminações nervosas. Ele é apenas uma bagunça de cabelos
cacheados e olhos negros penetrantes. Uma espécie de eremita preso na pequenez
de sua estatura e fragilidade do seu corpo esquelético.
- Você...
Mas aquela se torna apenas mais uma sentença incompleta quando a porta
se abre de supetão dando passagem para uma figura inusitada. Não há tempo para
apresentações ou indagações. Nos minutos que se seguem a pequena sala
improvisada serve de plano de fundo para um espetáculo de gritos, clamores e
sangue.
***
O rosto do meliante se contorce ao som da pasta atirada contra a mesa.
Seu conteúdo se espalha pela superfície branca expondo o festival de
carnificina responsável por chocar e amedrontar toda a população nacional.
- Talvez seja melhor refrescar a sua memória – a voz do investigador
ressoa cheia de sarcasmo.
O homem alto alisa entre as mãos o pequeno bloco de notas e teatralmente aquece a garganta.
Ele lê:
- Sua pele dourada pede para ser
remendada. Não há nada mais bonito do que um trabalho bem feito e esse trará
bons resultados. Meus dedos correm por sua estrutura analisando
milimetricamente os pontos que devem ser concertados, remodelados. Essa é a
minha missão. Coloco a régua sobre a
pele da sua perna enquanto o bisturi traceja a mais bela das artes. O sangue
escorre tingindo o meu trabalho de vermelho e eu me permito experimentar parte
da sua textura contra as minhas mãos. Observo como a pele se desprende com
facilidade, como se estivesse destinada a isso. Enfio a minha mão mais uma vez
em seu peito procurando aquela parte tão essencial. O caminho aberto pela minha
serra contra a sua costela possibilita que eu massageie o órgão vigoroso
impregnado de fúria e paixão. Enquanto escalpelo meus pecadores posso sentir a
libertação fluindo através dos seus órgãos expostos e da carne viva. Essa é a
única forma de purificá-los. É a única forma de estarem vivos.
O investigador termina o relato sem se abalar. Ele sorri ligeiramente e
se volta para o acusado.
- Texto interessante – elogia jogando o caderno sobre a mesa – Mas não
explica o porquê da sua mãe estar naquela sala.
Ele observa o acusado fechar as mãos em punho como se tentasse manter o
controle.
- Ela não deveria. Apenas não deveria – ele diz ofegante – Eu disse para
ela se manter afastada.
- Se mães normais podem ser difíceis, aposto que uma freira pode ser
milhares de vezes pior.
Os punhos do acusado se chocam com fúria contra a mesa.
- Ela se recusou a tocar nele.
- Ele era apenas um ator global.
- Ele precisava ser purificado – grita irresoluto - Todos eles precisavam. Todos eles estavam no
pecado.
O investigador se afasta tentando soar pensativo.
- Assim como a sua mãe? – testa – Por que ela engravidou de você sendo
uma freira? Ou por que o ator em questão era seu pai?
O homem se levanta com violência e se lança contra seu oponente
esbarrando na mesa que despenca com estrondo espalhando toda a papelada pelo
chão. Três policiais fardados tentam conter o desesperado meliante que se contorce
enquanto grita insanidades. Sua consciência é apenas um traço abstrato de uma
personalidade deturpada.
- Está tudo bem por aqui? – o delegado questiona adentrando no recinto.
Ele verifica a bagunça ao redor e estremece quando os gritos angustiados
do meliante ressoam por todo o corredor.
- Esse cara é um lunático – diz em meio a uma careta observando as fotos
das cenas do crime.
- Lunático o suficiente para matar a mãe com um cortador de grama.
- E escalpelar o pai. Que inferno de caso foi esse?
Os dedos do delegado pressionam levemente a têmpora procurando algum
alívio para a dor de cabeça irritante.
- Eu realmente não sei. Você já tem o modus operandi?
O investigador suspira se ajoelhando para juntar as folhas que se
amontoam no chão.
- Ele fazia espetáculos circenses em meio aos comerciantes – explica –
Seu disfarce como palhaço banguela
possibilitava analisar as próximas vítimas em meio à multidão. Após
escolhe-las, ele as perseguia pelas ruas do Pelourinho e as enforcava com o fio de um carregador de celular. O espetáculo de horror começava logo depois.
Ele sinaliza para as fotos a sua volta e o delegado se deixa ser sugado
por uma em particular.
Um conglomerado do que antes era um homem.
Agora tudo o que resta é uma grande mancha sangrenta.
E aí, pessoal, o que acharam? Gostaram do texto? Eu amei!!
A Erica conseguiu criar a sua salada, respeitando todos os ingredientes exigidos e dando um ar bem "macabro" ao conto! Só posso dizer que todas as minhas expectativas foram superadas e eu amei o resultado. Espero que tenham gostado como eu gostei e se preparem, porque terça-feira que vem, dia 25 de novembro haverá um novo texto!
Oi Dri, tudo bem? Nossa, eu adorei o texto!!! A Érica soube muito bem criar um texto super envolvente utilizando todos os ingredientes da salada de forma incrível. Nossa, ficou meio tenso o conto, mas muito bom... nossa, a parte do relato ficou bem real, fiquei até imaginando como aconteceu. E nossa, a freira era mãe dele? E o autor global o pai!? Tensoo!! Adorei e estou esperando o próximo texto.
ResponderExcluirBeijinhos,
Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?
Adorei o texto e senti arrepios kkkkkkkkkk. Adorei o ator global envolveu do começo ao fim . Parabéns Erika pelo texto. Imaginar que o assassino era o palhaço , freira a mãe dele. Tudo muito bem envolvente beijos
ResponderExcluirOIa Adriano!
ResponderExcluirnossa no começo achei estranho e tenso o texto mais depois achei o maximo fiquei imaginando as cenas rs! muito legal mesmo parabéns a autora
muito criativo ja estou aguardando o proximo
Abraço!
www.marichic.com
que legal essa coluna! Adorei o sorteio hahaha, muito criativo. E uma salada mesmo, eu morro de medo de palhaço - e ta vendo que com razão afinal são sempre serial killer, tudo bem que nunca vi um com carregador de celular haha. Adoro essa palavra "bruxelar" acho ela engraçada, não sei porque haha
ResponderExcluirGostei! A erica teve que rebolar e muito pra conseguir encaixar todos os elementos.
Oi, Stephanie,
ExcluirEu também morro de medo de palhaço! Tenho pavor e sempre acho que por trás da maquiagem há alguém do mal. :P
Ficou muito ótima a salada da Erica né? Ela sambou muito! rs
Beijos
Adooooooooorei participar da coluna, Adriano.
ResponderExcluirFico muito feliz que você e os leitores tenham gostado do conto.
É a primeira vez que escrevo algo do gênero e fiquei um tanto apreensiva.
Obrigada pela oportunidade e pelo apoio.
Beijos pluvianos <3
Oi Dri <3
ResponderExcluirBem, eu sou suspeita a falar sobre os livros da Erica, porque eu os amo de paixão desde que os conheço. Morra de inveja por motivos de: ela mora no mesmo bairro que eu, que na verdade é um distrito cheio deles. Adorei o conto que ela escreveu e adorei ainda mais a estreia da coluna ser feita por ela. <3 <3 <3 <3
Parabéns pela ideia, mais uma vez. Sensacional!!!!
Beijos, Rob
Oi Dri... tudo bem???
ResponderExcluirMenino a Erica arrasou nesse conto... desde que vi o anuncio da postagem na page do facebook fiquei mega louca pra vir aqui e ler... mas só consegui hoje e sinceramente mais uma vez ela mandou ver e seguiu tudo direitinho.... só acho que ela poderia usar esse teto e dar uma desenvolvida em um conto maior porque eu tenho certeza que iria ficar da hora também só para aproveitar a deixa rsrsrs... Xero!!
Perfeito! Quando vc propôs a salada, eu achei uma ideia muito louca, mas pensei que seria impossível quando li as especificidades que a autora teria que encaixar no texto. Ela mandou muito bem! Conseguiu relacionar os mais diferentes objetos, personagens e situações. Só não achei que foi muito terror, ficou mais pra policial.
ResponderExcluirAnsiosa pelo próximo.
Beijinhos!
Giulia - www.prazermechamolivro.com
Olá,
ResponderExcluiramei a coluna, achei bastante criativa. Bem inovadora. Amei Amei Amei *---*
Uuaaai, que texto é esse? Magnífico. A Érica arrasou! *palmas*
Bjoooos!
Vivendo em Livros
Oi Adriano, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei o Salada Literária e o layout do post. Já vi algumas resenhas bem legais de Pluvia, mas não conhecia o rostinho da autora.
beijos
Kel
www.porumaboaleitura.com.br
Oi Adriano, tudo bem? Muito legal a postagem, fiquei bem interessada nessa nova coluna do blog. Gostei muito do texto da autora e vou aguardar mais edições dessa coluna. A autora eu já conhecia pela blogosfera, mas ainda não li nada dela.
ResponderExcluirBeijos,
Leitora Sempre
Ta ai, eu achei a sua proposta bem louca e quando vi os ingredientes que a autora tinha para sua salada eu ri sozinha... Vai, de onde você tirou essa essa combinação louca?
ResponderExcluirA questão é que a autora mandou super bem e cumpriu com a proposta. Só achei que não tinha taaanto terror assim. Mas ta valendo =D
Beijiinhos ;*
Andressa - Blog Mais que Livros