[SALADA LITERáRIA]: #2 - Luiz Henrique Mazzaron


Olá, pessoal!
Tudo bem?!

Para quem acompanhou o blog nos últimos dias, eu criei uma nova coluna chamada Salada Literária (se não sabe do que se trata, visite este link. Todos os participantes estão muito ansiosos para ver seu texto sendo publicado, porém o autor da salada de hoje é um dos mais ansiosos para saber o que acharão de seu novo texto. 



A coluna consiste na criação de textos com caráter lúdico e improvisado, no qual o autor escreverá seguindo algumas informações pré-concebidas e cabe a ele, a responsabilidade de dentro do texto, usá-las como preferir.


Por sorteio, foi definido que o Luiz Henrique Mazzaron será o segundo a participar da coluna.
E vocês podem conferir as saladas anteriores: 

  1. Erica Azevedo;
 Confiram quais foram seus ingredientes:


- SALADA:
- Gênero? Drama.
- Quem? Homem estrangeiro, professor alcoolatra e ex-dançarina do Faustão.
- Quando? 2008
- Onde? Fortaleza - Ceará
- Como? A critério do autor
- Por quê? A critério do autor
- Objetos especiais: Canivete, livro de Dan Brown, molho shoyu, torneira e fone de ouvido.

Informações importantes: 
* Podem ser acrescidos novos personagens, desde que esses estejam inclusos.
* Os objetos especiais DEVEM estar na história e a finalidade dele é critério do autor, assim como o porquê e o como.

A partir de agora, acompanhem a leitura desse texto com a direção e criação do Luiz Henrique Mazzaron. Enjoy! 
Resenha de Máscara: a vida não é um jogo. 


CAFÉ NOIR.

Brasil. Fortaleza, Ceará. Carnaval de 2008.
Conforme a noite caía, a agitação crescia. Pessoas de todas as idades começavam a preencher ruas e avenidas da cidade, que pulsava vigorosamente com a energia que só aquela terra possuía. O som reverberante dos poderosos carros de som e dos foliões agitados no coração do evento podia ser sentido de longe, contagiando a todos como uma praga. Mas havia um lugar que preferia ser alheio àquela explosão de sorrisos e corpos suados. Localizado em uma rua estreita de um bairro boêmio, o Café Noir era o refúgio perfeito para quem não tinha motivos para estar alegre naquele dia. Poetas e músicos frequentavam regularmente o local, mas os clientes cativos eram os deprimidos e os tocados pela maldição da desesperança. Os assentos de vinil escuro, o café amargo e as paredes aveludadas eram os confidentes de suas desventuras na vida.
A porta se abre e um sino ressoa no estabelecimento. Astolfo de Assis limpa os sapatos no capacho e deixa alguns confetes coloridos presos nele antes de ir se sentar à mesa mais distante, localizada num canto obscuro entre uma janela trincada e um jukebox desativado. Logo depois uma garçonete pálida se aproxima e pergunta o que ele vai querer. Pergunta se eles têm vodca ou uísque, mas ela diz que não, lançando-lhe um olhar frio de quem já repetiu aquilo várias vezes. Sem escolhas, pede uma xícara de café sem açúcar.
Enquanto aguarda, coloca sua maleta sobre a mesa e a abre. Astolfo remexe em alguns papéis, buscando por algo que ele não sabe ao certo o que era. Sua razão de viver, talvez? Dedilha provas de alunos não corrigidas e contas a pagar. Suspira e encontra um canivete dentro de um compartimento interno. Ele o retira da maleta e aperta o botão da trava, fazendo a lâmina do objeto saltar.  Astolfo a examina minuciosamente sob a luz suja da luminária no teto. Tão linda, tão afiada... Seria sua passagem de saída daquela vida medíocre. Professor, viúvo, quarenta e seis anos, alcoólatra... Quem sentiria sua falta? Sua amada esposa já não estava mais ali para sustenta-lo com seu afeto e a bebida já não o consolava mais como antes. Ela também iria abandoná-lo, e quando isso acontecesse, não suportaria mais o fardo.
Sente um mal estar. Alguém o observa. É a mulher da mesa em frente. Quando seus olhares se cruzam, ela retorna a atenção à revista em sua mesa enquanto ele esconde o canivete na maleta. Quis brigar com ela por não cuidar de sua vida, mas a garçonete chega com seu café logo em seguida. Quem aquela gorda pensava que era para ficar lhe observando? Deixasse-o só com seus demônios. Mal sabia Astolfo que ele conhecia aquela mulher. Não da vida, mas da televisão.
Aquela mulher desconcertada pelo flagrante era Claudia Oliveira, mais conhecida como Claudinha do Faustão. Já fora conhecida como uma das mais carismáticas bailarinas do famoso programa dominical conduzido por Fausto Silva, mas isso foi antes de um problema de saúde a tornar no que era hoje. A estonteante morena dos olhos de mel, cujas curvas já foram desejadas por milhares de homens, havia se transfigurado em uma obesa triste e calada, que passara a viver pelas sombras para que não a vissem. Já fora reconhecida por algumas pessoas na rua, e a expressão de espanto em seus rostos ao ver que Claudinha havia se convertido naquilo não a ajudava em nada a viver melhor consigo mesma. Era difícil aceitar que os holofotes jamais a iluminariam novamente. Tudo o que lhe restava de orgulho da antiga vida eram os olhos de mel, que mantinha sempre em destaque com maquiagem. Eram a marca de seu passado que jamais a deixaria, diferente dos amigos e parentes que lhe cortejavam antes da doença e evaporaram como gelo ao sol quando tudo começou a ruir em sua vida.
Claudia finge folhear as páginas da revista para ignorar o olhar furioso do homem da mesa em frente, passando rapidamente pela sessão de esportes e de fofocas até que se detêm em um anúncio de lingerie. A loura escultural sorri para ela, debochada. Irritada, Claudia fecha a revista e olha termina seu chá preto num gole. Olha para o balcão em busca da garçonete para pedir a conta. Um rapaz lhe chama a atenção. Sua pele é muito clara e seus cabelos são de um louro quase dourado. Não deve ser brasileiro, levando em conta a leva de gringos que sempre vinham naquela época do ano. Ele lê um livro: O Código Da Vinci, de Dan Brown. A Mona Lisa está na capa, olhando para ela com aqueles olhos misteriosos e superiores, julgando-a. Queria ser como a Mona Lisa. Mesmo após tantos séculos, a filha da mãe ainda continua sob os holofotes, sempre radiante, e ela nem era tão bonita! Não tanto quanto ela fora. Fora... Verbo “ser” no passado. Sentiu vontade de gritar.
O rapaz a fitou de repente com seus olhos azuis e sorriu um sorriso de dentes perfeitos. Aturdida, Cláudia voltou a fingir que lia a revista e deu um gole em sua xícara vazia. Sentia as orelhas queimarem. Porque o destino gostava tanto de lhe castigar colocando tanta perfeição em seu caminho? Não se sentia digna de ser vista olhando para aquele belo rapaz. Está paralisada de vergonha e não ousa chamar a garçonete para ir embora. Tira da bolsa um par de fones de ouvido e decide calar as vozes acusadoras em sua mente com música clássica.
O rapaz na bancada arqueia uma sobrancelha quando a mulher que o observava parece ter levado um susto ou um choque. Ela era bem diferente das outras pessoas que conhecera até agora. O povo de Fortaleza era alegre e amigável, e esse fato se ampliava com o clima do carnaval. Mas a mulher de belos olhos não parecia fazer parte daquele espaço. Ela era como o molho shoyu pousado sobre a pia além do balcão. Aquilo era um café e não um restaurante japonês! Ambos destoavam do cenário lúgubre, assim como ele próprio.
Seu nome é Gustaf Harstmann, alemão e amante do turismo. Ele sempre preferiu lugares mais calmos para suas viagens, mas a magia e as cores do Carnaval brasileiro o fizeram relevar os comentários negativos sobre violência e precariedade nos serviços do país e a se arriscar numa visita de quatro dias. Não se arrependeu de nenhum euro gasto na viagem. Tudo foi além de suas expectativas. A acolhida, o clima, o visual... Tudo tão diferente de sua terra natal! E até agora nada de assaltos, para seu alívio. Mas em certo momento, toda aquela agitação começou a lhe assustar e precisou de um pouco de paz e silêncio, encontrando no Café Noir o lugar perfeito para isso. Era quase bizarro encontrar um local assim em meio a tantas festividades.
Gustaf olha ao redor e observa os clientes. Todos tão calados e presos em pensamentos. Há uma tensão no ar que se mistura com a fumaça dos cigarros, formando uma aura cinzenta e diáfana. Sente-se mais deslocado ainda. Afinal, ele parece ser o único ali a não estar fugindo de um inimigo invisível. Volta a ler. A torneira na pia pinga em intervalos regulares. Ele sincroniza sua respiração com o gotejar e logo está absorto em sua leitura. Nada mais existe, só ele e o livro. Às vezes, sua mente vagueia para longe, para sua casa, e a nostalgia tira seu foco, mas rapidamente seus olhos voltam a voar pelas linhas enquanto o tempo passa.
Logo, a madrugada engole o Café Noir, lar dos deslocados. As pessoas começam a sair, cada uma para seu destino incerto. Astolfo parte com sua maleta para o fim da rua em passos vacilantes. Claudia sai logo em seguida e perambula pelas sombras das marquises até desaparecer. Gustaf é um dos últimos a sair. Despreocupado, segue até a esquina e pega um táxi.
A plaqueta na porta de vidro do Café Noir é virada: FECHADO. As luzes se apagam e logo o estabelecimento se perde na noite, levando consigo as mágoas e aflições de seus clientes do dia.

E aí, pessoal, o que acharam? Gostaram? Tem como não ser absorvido por essa atmosfera noir que o Luiz criou? Estou muito feliz com os resultados de cada salada e eu espero que vocês também estejam gostando! Não deixem de comentar e no próximo dia 02 de dezembro, publicarei um novo texto e esse texto foi escrito por uma lady! Alguém gostaria de tentar acertar quem será essa autora? #aguardem!

10 comentários:

  1. MENINO BB ...

    Que ideia legal... Acho que cada salada da pra ter uma ideia da escrita do autor, e isso é fabuloso. Se antes eu queria ler máscara, agora quero mais. Adorei a forma como o Luiz introduziu os personagens (além do desenrolar da história). Muito muito bom mesmo, parabéns. Achei o conto bem fluido, mesmo com uma história tão sóbria. nenhum se encaixa no espaço, mas mesmo assim vão passar um tempo no Café. Tentar colocar os pensamentos em ordem. Adorei.

    Sucesso nessa nova categoria do blog, estarei de olho.
    Beijos

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  2. Amei essa salada e que criatividade hein , dançarina do Faustão muito bom e prendeu do começo ao fim , e no fim cada um segue seu caminho com seus medos e dúvidas. Parabéns pelo texto. Um projeto maravilhoso. abraços

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  3. Wow, ficou muito bom!! A comparação com mlho shoyu foi fantástica hahaha! Gostei muito da escrita dele, já estou curiosa pelo livro, e adorei também o clima noir, a percepção da tristeza mesmo em tempos de carnaval... E também o fato de os tres personagens não terem nenhum tipo de contato além da troca de olhares! Fiquei realmente impressionada com as poucas linhas bem trabalhadas! =D

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  4. Oi Adriano, tudo bem?

    Adoro essa salada literária. Gostei muito dessa nova atmosfera que o Luiz criou. E eu adoro quando um conto ou um livro, etc tem citações de outros livros. Dan Brown é <3 Curiosa para saber quem é a próxima convidada.

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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  5. Olá Adriano! Primeiramente, Parabéns pela ideia desta coluna. Uma brincadeira bem divertida.
    Ainda não li o livro do Luiz, mas adorei conhecer um pouco do estilo do autor neste pequeno texto.
    Ao Luiz, meus parabéns por participar e parabéns pelo resultado.

    Café Noir parece ate ter vida própria, como se trouxesse a todos a reflexão, um local onde impera a melancolia. Gostei bastante da coluna e do resultado da vez.

    Beijos,
    Bell

    http://contosdoguerreiro.blogspot.com/

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  6. Oi Adriano, tudo bem???
    Eu achei muito engraçado a escolha de objetos e também de personagens que não tinham nada a ver um com outro. Você dificultou muito o trabalho do Luiz. Mas posso falar??? Ele se saiu muito bem!!!!! Ele encaixou de forma perfeita todos os elementos que você determinou. Adorei essa sua postagem e parabéns ao Luiz!!!!
    Não faço a mínima ideia de quem será a próxima autora.
    Adorei a montagem que você criou para colocar a foto do autor, seu livro e um texto sobre ele.
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br

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  7. Olá Adriano,
    achei a ideia maravilhosa, em fazer uma salada mista - que convenhamos, é bem estranha - e montar uma historia cruta através desta lista.
    E a escolhida desta vez eu gostei, mesmo sendo uma leitura rápida consegui imaginar o lugar, os personagens e suas vidas. Mas esperava algo com mais ação, sei lá. rs
    Bom vamos esperar e ver qual sera a próxima salada e historia.

    ps: Senti pena da dançarina. Pensei que ela conseguiria tascar o gringo.

    Beijokas Ana Zuky

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  8. Oi Adriano, tudo bem? Estou adorando esta nova coluna no blog, onde achei a ideia da sala mista bem legal, fazer com quem os autores criem um texto baseado nas palavras que você selecionou. Gostei do texto e parabéns pelo autor, a escrita dele é ótima.

    Beijos
    http://www.leitorasempre.com/

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  9. Olá Adriano, gostei da ideia desta coluna <3 O texto do Luiz esta simplesmente perfeito e eu queria mais desta historia, fiquei absorvida na leitura que acabou tão rápido Ç.Ç Luiz é sem duvida um otimo autor, o seu livro Máscara - A vida não é um jogo é um dos meus favoritos deste ano <3

    Visite o blog "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  10. Oi, Adriano! Já disse que adorei a proposta, né?
    Só que dessa vez o texto não me convenceu. Achei que o autor criou 3 personagens isolados, cada qual com seu drama pessoal, mas não os entrelaçou. Faltou entrosamento, diálogo, histórias cruzadas. Mas não foi de todo ruim, o autor foi bem criativo para explorar os itens propostos.
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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